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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

M I R A N T E - Ditadura e Democracia



MIRANTE - Ditadura e Democracia

Letterio Santoro

A campanha para as eleições gerais de 2010 me ajudou a esclarecer, sem querer, mas providencialmente, episódios de um passado distante. Lá dos idos da década de 60, quando vivíamos, aqui no Brasil, em plena ditadura militar (1964-1985). E como se deu isso? Através de dois livros que me caíram nas mãos durante a campanha eleitoral. O primeiro, um longo depoimento do Deputado Federal José Genoíno a uma jornalista, depois transformado em livro, chama-se "Do sonho ao poder". A obra conta a empolgante, dolorosa, exitosa, frustrante e histórica aventura de um jovem cearense, que descobriu a política, optou por um partido, se opôs à ditadura, acreditando poder derrubá-la através da luta armada, foi guerrilheiro no Araguaia, ajudou a criar o PT, foi deputado, participou da Constituinte, e chegou com Lula ao poder. 
O segundo livro, "Helenira Resende e a guerrilha do Araguaia", pequenino, de bolso, escrito por Bruno Ribeiro, veio completar os capítulos sobre o assunto do livro de Genoíno. Genoíno e Helerina estiveram juntos no Araguaia, acreditando no mesmo sonho, dispostos a lutar com armas contra os militares e seus apoiadores civis, contrários às reformas de base para beneficiar a população brasileira. Ambos os livros me foram emprestados pela companheira Marly Batista, que, a exemplo de Genoíno, de Helenira, e tantos outros companheiros do PT e de alguns partidos, acredita no sonho socialista de todos terem seus direitos fundamentais garantidos, como exige a democracia e a Constituição.
Em ambos os livros, mas principalmente no primeiro, trata-se da terrível luta da cidadania desprotegida contra a ditadura nos anos de chumbo, de silêncio, de censura, de tortura, de repressão, de mentira. Luta que redundou na conquista da democracia graças à prisão e morte de alguns que acreditavam na utopia de viver em liberdade e dignidade. Quem nasceu e viveu em tempos de democracia, não pode imaginar o que seja viver com medo, não poder se manifestar, nem se reunir em público, nem escolher seus governantes para se conformar com a ditadura. E eis que, depois de mortos alguns idealistas como Helenira Resende, depois de aplicada a lei da anistia aos dois lados (militares e civis) da guerra suja, depois de um torneiro mecânico chegar ao cargo de Presidente da República, passados 40 anos, tenho à minha frente como candidatos, uma (Dilma) à Presidência da República, e outro (Genoíno) a Deputado Federal.
Esses dois companheiros do PT foram heróis guerrilheiros contra a ditadura militar. Não teria havido guerrilha no Brasil, se os militares não tivessem tomado o poder legítimo de presidente eleito pelo voto, no fatídico ano de 1964. A dita Revolução deles foi um golpe à democracia. Os dois ex-guerrilheiros anistiados estão hoje, diante de mim, pedindo o meu voto. Mas o voto que eu lhes dou não é às pessoas deles, e sim ao que eles representam de utopia, de liberdade, de desenvolvimento, de alegria para todo o povo brasileiro. Votando neles, estou votando no sonho de Helenira e de tantos, cuja vida foi ceifada em plena juventude pelas metralhadoras da ditadura. Elegendo Dilma Rousseff como Presidente, elegendo José Genoíno como Deputado Federal, estou reconhecendo que não foi em vão o sacrifício de quantos deram a vida pelo bem-estar de todo o povo brasileiro. Ao elegê-los, coroamos de vitória e de glória a luta encetada por aqueles guerrilheiros assassinados pela repressão em plena ditadura.
Não seria, por outro lado, ofender a memória daqueles heróis do passado, cujo sangue foi semente da democracia e da liberdade, escolher hoje homens e mulheres cuja única preocupação é achincalhar a democracia, ser testas de ferro de traficantes, de poderosos, de exploradores, de gozadores dos pobres? Nem como voto de protesto podemos pensar nisso. Quem não lutou e sofreu antes da eleição junto com o povo, não merece representar o povo.

Texto publicado no site Garça Online 
no dia 25 de setembro de 2010 na Coluna Opinião, página 2.


Letterio Santoro, é aposentado, poeta, 
cronista e membro da APEG

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