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sexta-feira, 15 de outubro de 2010


MIRANTE - Hermenêutica do Discurso Político 

Letterio Santoro

Gosto de Política, enquanto busca do bem comum, mas não gosto de todos os políticos. Na Política, porém, aprecio com particular interesse os discursos, embora muitos sejam, às vezes, contraditórios com a prática. Talvez sejam estas as duas razões explicativas de meu inveterado hábito de freqüentar as sessões ordinárias semanais da Câmara de Vereadores de Garça, e de minha participação em Partido político (PT). Se não houvesse o discurso, não haveria a Política. Se não houvesse a Política, a sociedade desapareceria no caos.
Falemos um pouco do discurso político, inevitável durante os entendimentos interpartidários da campanha eleitoral, para depois tentar uma hermenêutica, isto é, uma possível interpretação desse discurso. Pouco mais de dois anos atrás, em maio de 2008, membros do Partido dos Trabalhadores (PT) vivíamos em Garça a primeira experiência concreta de coligação com outros partidos políticos, tendo em comum o fato de serem oposição ao PSDB, ao DEM e ao PTB, no poder até fins de 2008. Não exigíamos nada em troca, o que admirava alguns companheiros de coligação. 

Durante os entendimentos interpartidários, de fevereiro a maio de 2008, registrei, por exemplo, do companheiro Rodrigo Funchal, em 21.02.08, o seguinte pronunciamento diante dos presentes na reunião de preparação: "Quando eleitos, é o grupo que vai dirigir", no sentido de governar. Naquele começo de negociação, quem seria o grupo? Certamente os partidos e as pessoas que ali estavam. Já em 28.02.08, diante de 26 pessoas de nove partidos, Cornélio Marcondes, sem ser ainda candidato, proclamava: "Ninguém ganha nem governa sozinho: todos governando". Todos entenderam o que o então Vereador Cornélio queria dizer. 

Mas o discurso mais claro e específico do já pré-candidato da coligação de oposição ao governo do PSDB, todos o ouvimos na sala de minha casa, no dia 01.06.08, diante do Deputado Estadual José Cândido. À pergunta de como via o PT na Administração Municipal, Cornélio Marcondes assim respondeu: "O que se promete tem que ser cumprido: o PT fará parte da Administração...O PT e o PMDB (parte do partido que optou por Cornélio) estão no mesmo nível". 

Definidos enfim os candidatos a cargos majoritários e aos proporcionais, e iniciada a campanha eleitoral propriamente dita, percebemos que os partidos coligados não mais se reuniram como na fase preparatória. Começara a guerra da caça aos votos, e cada candidato aplicava a sua própria estratégia para ser eleito. Eleitos, no dia 05.10.08, os representantes de nossa coligação aos cargos de Prefeito, Vice e Vereadores, os partidos foram de todo esquecidos, especialmente o PT de que dependeu não apenas a campanha, mas principalmente a vitória. Nunca mais houve reunião. Nem para avaliar a própria campanha. Sentimo-nos mais do que esquecidos - abandonados. Nem reunião de partidos, nem contato pessoal com os eleitos. O Secretariado foi sendo escolhido, e o PT sempre mais preterido. Parecia que as duas falas de Eduardo Davi (05.03.08) e de Rodrigo Funchal (dias depois) sobre o despojamento de nosso partido nessa primeira experiência concreta de coligação tinham conseguido influenciar mais o Prefeito eleito do que todos os outros pronunciamentos sobre a participação conjunta no governo.

Passados dois anos, vencido o pleito, escolhido o secretariado, empossados todos, e feitas inclusive as reformulações no governo municipal, compreendemos a admiração de alguns na época em relação ao PT, e percebemos, depois, muito mais a nossa intolerável (digo-o agora) ingenuidade política. Porque todos os partidos da coligação, e até do PMDB que optou por apoiar o candidato da situação (Lico), foram contemplados com secretarias, menos o PT, de quem dependeu fundamentalmente a vitória do Prefeito Cornélio Marcondes. Não era o cargo em si propriamente que nos interessava. Incomodava-nos mais o abandono a que fomos relegados não apenas o PT, mas outros companheiros da coligação. Tínhamos a sensação de ter sido tão somente usados.

Diante da constatação, pus-me a construir uma hermenêutica do discurso político, isto é, uma possível interpretação que me explicasse a própria contradição. A hermenêutica me mostra um aspecto quase cruel do discurso político. Se você, leitor, analisar o atual secretariado sem a participação do PT, perceberá que a contradição entre o discurso e a prática é apenas aparente. Quem de fato governa hoje em Garça? É o grupo político de Cornélio Marcondes. Com a exceção inconformada do PT, parece que todos os outros partidos da coligação foram atendidos, especialmente os rebeldes do PMDB, que oficialmente foi para o lado do Lico. O secretariado atual de Cornélio é composto por membros desse grupo, mais próximos dele há muito mais tempo que os do PT. É questão de confiança. Assim, o PT de Garça está no poder (Vice-Prefeito), mas não no governo. E tem mais: com exceção da referência explícita de Cornélio quando da visita do Dep. José Cândido, todas as outras referências são genéricas, e, portanto, se enquadram na do grupo primitivo de sua confiança. Mais ainda: o mandato ainda não terminou, podendo a promessa ser cumprida nos dois anos restantes. E tem mais: eu estou satisfeito com o quinhão recebido; meu partido é que ainda não está. E com razão. Comportamo-nos em 2008 como uma donzela prendada que se deixou seduzir e foi depois abandonada. Em 2012, com certeza, a ingenuidade cederá lugar à malícia. A experiência da primeira coligação será lembrada numa próxima, se próxima houver.

Apesar dessas aparentes contradições do discurso político, gosto da Política e de seu discurso. A Política é a arte do possível. Ela muda como as nuvens. E eu gosto de ver as nuvens mudando de figura no céu.

Texto publicado no site Garça Online 
no dia 09 de outubrode 2010 .


Letterio Santoro, é aposentado, poeta, 
cronista e membro da APEG

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