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sexta-feira, 15 de outubro de 2010


M I R A N T E - O Mestre

Letterio Santoro

(A todos os Mestres no Dia do Professor)

Quando o pobre Dante se viu angustiosamente só na selva selvagem, e se considerava já perdido em meio aos animais ferozes, apareceu-lhe, de modo imprevisto, o Mestre Virgílio. Seu coração se consolou, e uma disposição nova lhe invadiu o ânimo abatido. Tanto que aceitou o convite de Virgílio para uma viagem surpreendente aos submundos das Paixões humanas.

Lá se foram eles pelos caminhos infernais, perdidos em meio às trevas e ao choro pungente dos infelizes condenados. O Mestre, a pouco e pouco, foi mostrando ao discípulo, atento e assustado, o ridículo apavorante a que chegam os homens, quando submetem a inteligência ao desejo. E Dante viu com horror que o pano de fundo de todas as Paixões era sempre a escuridão e as lágrimas.

Mas o Mestre não se satisfaz com lhe apresentar apenas as descidas escorregadias da triste vida. Leva-o também por íngremes caminhos pedregosos que desanimavam os olhos do principiante, mas que o iam tornando sempre mais feliz. "- Que procuras aqui?" - perguntou a Dante um velho austero, de longas barbas honestas. A que responde o Mestre pelo discípulo atônito: "- Vai buscando Liberdade!" Pois o caminho da Liberdade é feito de Sofrimento. Virgílio e Dante avançam assim pelas angústias da ascensão interminável, ao longo da qual descobriam, aqui e ali, homens antigos e novos em expiação.

Animou-se com eles o discípulo, e se dispôs a ir além, sem parar, apesar da dor pungente da subida. Até que, por fim, chegaram ambos ao fim da caminhada. O discípulo havia passado por duras provas, e conseguia já por si mesmo coroar-se dos louros da vitória. O Mestre percebeu que o seu momento tinha vindo - um momento ao mesmo tempo difícil e necessário. O antigo menino apavorado conhecia já os caminhos fáceis e terríveis da Paixão. Conhecia também os caminhos dolorosos do Sofrimento. Possuía tudo para ser finalmente livre como sempre sonhara.
Foi então que Mestre Virgílio, o doce Pai, o inigualável Amigo, se afastou em silêncio de repente, e às escondidas do discípulo amado. Ao se ver atraído por mundos superiores de Verdade e Bem - mundos que estão acima da Paixão e do Sofrimento - o persistente Dante volta-se para o Mestre à espera ainda de um aceno, de uma opinião. E, ao dar com a ausência de seu amparo, o espírito se lhe perturba e o coração lhe punge. Mas compreende ali o papel sempre limitado e transitório do Mestre.

E admira-lhe principalmente a inusitada retirada: em silêncio! O discípulo conseguia já andar sozinho. Se o Mestre continuasse, lembrar-lhe-ia sempre a condição de dependência que não lhe convém mais. Quando o aluno se liberta, o Mestre termina a sua missão. E desaparece em silêncio.

Ao longo de toda a vida, porém, principalmente em momentos decisivos, o discípulo Dante haverá de recordar sempre o seu amado Mestre Virgílio, que o ajudou a ser livre.


Texto publicado no site Garça Online 
no dia 15 de outubro de 2010 .


Letterio Santoro, é aposentado, poeta, 
cronista e membro da APEG

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