English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Pesquisar este blog

sexta-feira, 15 de outubro de 2010



M I R A N T E - Povo: A grande maravilha das eleições


Letterio Santoro


Muita gente afirma que o povo não sabe votar. Principalmente os candidatos derrotados. Se fossem eleitos, seria diferente. Nunca acreditei nisso. Pois fui descobrindo, nas eleições de que participei, o contrário: a grande maravilha de todos os pleitos é sempre o povo. Não são os candidatos, não são os partidos; é o povo. Por que? Porque o povo é o caos de onde sai a ordem. É o caos, pois o povo, no domingo da eleição, é composto por eleitores com ou sem candidato, apresentado por tal ou qual dos inúmeros partidos (ou siglas?), ou sugerido por amigos, ou, às vezes, até imposto por alguns patrões (sic). Com as informações, tantas e tão contraditórias, de que dispõe no dia do pleito, o povo dirige-se às urnas, em silêncio, escolhe (ou não) seus preferidos, e lança o seu "fiat" como um deus onipotente. E a sua vontade acontece. E a sua vontade prevalece. Ai de quem não acatar a sua ordem. Pois o povo é o grande, o único soberano, de quem emana todo o poder. É assim, em silêncio, que o povo responde às gritarias de feira livre dos infinitos candidatos durante a campanha eleitoral. De seu "fiat" sai a esperança de uma nova ordem.

O que eu digo agora em prosa, já escrevi em versos (O Soberano), e publiquei em jornal nos idos de 1989, quando da primeira eleição para Presidente da República, depois dos governos militares, onde o companheiro Lula, do Partido dos Trabalhadores, que eu ajudei a criar, disputou o cargo com Fernando Collor por não sei que partido. A História mostrou, passados já tantos anos, que não era hora de Lula ganhar, porque ainda estava imaturo, como ele próprio reconhece. Depois vimos o que vimos, tanto em 1992 com a queda de Collor, quanto agora com a popularidade de Lula. Tudo tem sua hora. O meu poema de 1989 profetizava assim na última estrofe: "Vingado das traições / do passado, o Soberano, / sempre seguro, propõe / novos tempos sem enganos". Muito tempo, porém, antes de mim, um escritor grego da Antiguidade, no século IV A.C., fazia o povo de Atenas gargalhar, às bandeiras despregadas, quando era apresentada a sua sátira política Os Cavaleiros. Nela falava de um velho caduco (Demos = Povo - de onde vem Democracia = Poder do Povo), precisado de gente que o servisse, cuidasse dele, lhe desse a papinha, atendesse enfim a suas necessidades. O episódio central da peça é a disputa desesperada dos mais diversos e ridículos candidatos a servo. Todos pretendiam servir ao velho Demos (Povo). Sob o disfarce do serviço, porém, os candidatos espertalhões pensavam em se servir dele para benefício próprio. Afinal, o velho é caduco...

E o que vemos nós, séculos depois de Aristófanes ter escrito e apresentado sua peça irreverente, senão a concretização de sua comédia? Cada eleição é uma dramatização adaptada de Os Cavaleiros. A tudo o povo assiste indiferente: aos gestos, aos discursos, às músicas, às gracinhas, às palhaçadas, aos sorrisos, aos santinhos desesperadamente distribuídos pelos candidatos. Cada um promete o que pode e o que não pode. Mas o velho caduco, aparentemente cego, surdo e mudo, no dia da eleição, em silêncio, dá a sua resposta, a resposta definitiva e fatal. Com o tempo, os servos vão sendo inexoravelmente substituídos, à medida que envelhecem, que aprontam, que são castigados por suas traições ao velho Demos. Só o povo, o velho povo permanece sempre o mesmo. Só o povo, portanto, é a maior maravilha de todas as eleições.
Claro que o eleitor se esforçará por escolher o melhor pretendente: o que esteve sempre com o povo em suas lutas pela cidadania, que colaborou com suas idéias e ações, com emendas para a nossa cidade, que está sempre presente durante o mandato e os anos anteriores. Quem chegou de paraquedas não merece nosso voto.


Texto publicado no site Garça Online 
no dia 11de setembro de 2010 na Coluna Opinião, página 2.


Letterio Santoro, é aposentado, poeta, 
cronista e membro da APEG

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails